Riscos para a saúde pela exposição ocupacional às radiações cósmicas em pilotos de linha aérea

  1. Oliveira Silva, Rodrigo
Dirixida por:
  1. Juan Jesús Gestal Otero Director

Universidade de defensa: Universidade de Santiago de Compostela

Fecha de defensa: 06 de maio de 2011

Tribunal:
  1. Fernando Rodríguez Artalejo Presidente/a
  2. Juan Miguel Barros Dios Secretario
  3. Pedro Tavares Vogal
  4. Francisco Bolúmar Montrull Vogal
  5. Bahi Takkouche Vogal

Tipo: Tese

Resumo

Nesta investigação desde a revisão bibliográfica, sobre o conhecimento do ciclo solar, radiações cósmicas, os seus efeitos na biologia e em particular nos pilotos de linha aérea, a sua idealização, planeamento, desenho, desenvolvimento, realização, conclusões e sugestões, foram levados em conta um conjunto de conceitos, procedimentos e técnicas que pensamos terem contribuído de forma decisiva para os resultados encontrados. Assim, é conhecido que a radiação ionizante pode produzir lesões ao nível do DNA, proteínas e outras moléculas. Este estudo contempla a realização de vários testes clínicos e bioquímicos para determinar a possibilidade de existência bem como a extensão dos danos induzidos pelas radiações cósmicas. A acontecerem, as possíveis lesões poderão ser causadas pela produção de espécies radicalares, como os radicais anião superóxido e hidroxilo. Nos possíveis danos a nível celular estão incluídos, hipoteticamente, danos devido a reacções de oxidação/redução de nucleótidos, hidrolizações nas cadeias simples e cadeias duplas de ácidos nucleicos (DNA, mas também RNA), bem como cross-links entre moléculas de DNA, de proteínas ou mesmo entre moléculas de DNA e proteína. Para diferentes organismos (de bactérias ao ser humano), e em condições normais, vários sistemas são activados na presença de radicais. Entre eles estão incluídas as enzimas dismutases do superóxido, peroxidases, catalases e outras enzimas que reagem com espécies reactivas de oxigénio (Reactive Oxygen Species, ROS) ou substratos que podem ajudar à formação de ROS para evitar ou minimizar danos oxidativos (ferritinas). Os estudos existentes apontam para uma fraca correlação entre um único parâmetro/patologia e a exposição às radiações cósmicas às quais os pilotos de linha aérea estão inerentemente sujeitos. Numa primeira análise poder-se-á concluir que os níveis de exposição não são significativos, mas existe o perigo potencial de estarmos a interpretar de forma incorrecta os dados publicados, ou de não termos dados suficientes para a correlação necessária. Considerouse benéfica a utilização combinada de testes clínicos de rotina em medicina com testes especialmente desenvolvidos para o efeito e uma análise multiparamétrica dos mesmos. Procurou-se que estes testes estivessem desenhados para a monitorização das respostas dos sistemas de defesa e reparação de danos. Desta forma, neste estudo está proposto e ensaiado um teste baseado na quantificação da capacidade de destruição de espécies radicalares pelo sangue através de espectroscopia de ressonância paramagnética electrónica. Estes têm em conta a capacidade que uma determinada amostra de sangue tem em eliminar uma quantidade conhecida e quantificável de radicais (radical hidroxilo), gerados através de uma reacção de Fenton. Adicionalmente, os produtos da oxidação do DNA e danos proteicos, no caso, a 8-hidroxi- 2'desoxiguanina foi quantificada num fluido biológico (urina). Desta forma, podem ser feitas tentativas para monitorizar danos através de produtos metabólicos de stress oxidativo causado pela exposição ocupacional às radiações cósmicas. Foi também tentada a obtenção de dados para a resposta fisiológica à capacidade antioxidante através de ensaios 'in vitro', com recurso a um kit biológico composto por amostras de proteínas e ácidos nucleicos. Este Kit foi exposto às radiações cósmicas no cockpit, durante o voo, tendo sido os danos monitorizados com metodologias bioquímicas correntes, tais como métodos electroforéticos. Verificou-se posteriormente que o tipo de ensaio desenhado não era o mais adequado para este tipo de controlo, sendo que não foi possível distinguir entre os efeitos causados pela exposição à radiação nas amostras versus os controlos. Simultaneamente, a exposição dos pilotos de linha aérea às radiações cósmicas foi avaliada por métodos directos e indirectos. Como método directo recorreuse à utilização de um contador Geiger (TEPC). O método SIEVERT foi usado como método indirecto de avaliação da exposição às radiações cósmicas. Neste caso, todos os voos monitorizados foram utilizados para o cálculo/estimativa das doses recebidas e os resultados comparados com os valores obtidos pelo método directo. Em alguns casos seleccionados foi também utilizado o método CARI-6, também usado por diversas companhias de linha aérea, permitindo assim uma comparação mais alargada entre diferentes metodologias. Para todos os pilotos envolvidos no estudo foi calculada uma estimativa da dose recebida durante o período da duração da investigação através do método SIEVERT, sendo neste caso avaliados 7405 voos com duração correspondente a 25668 horas. No contexto do estudo foram utilizadas duas amostras constituídas por 49 expostos (pilotos de linha aérea da TAP Portugal e membros da APPLA) e 35 de controlo (força de trabalho da Vicaima, SA). Estas amostras resultam da aplicação de critérios de inclusão e exclusão previamente estabelecidos e não ultrapassando um número global que impossibilitasse o estudo por motivos de recursos humanos e financeiros. Os resultados obtidos foram analisados em conjunto, recorrendo a uma análise multiparamétrica, com o objectivo de encontrar um efeito comum nas diversas variáveis estudadas, permitindo desta forma elaborar uma metodologia que fosse capaz de distinguir as duas amostras em estudo. Foi possível demonstrar a existência de uma correlação positiva entre as variáveis ferritina, hemoglobina e estimativa de exposição a radiação cósmica estimada (Sievert) e negativa com a variável 8OHG. Estas observações suportam a hipótese de que o metabolismo dos pilotos está adaptado a impedir a formação de espécies reactivas (ROS, RNS) e a potenciar a taxa de reparação de bases de DNA, num ambiente de pressão parcial de oxigénio inferior à normal (ao nível do mar). Em total concordância está o facto da capacidade antioxidante poder ser interpretada com uma correlação negativa versus a razão 8OHG/creatininuria, como seria de esperar num ambiente intracelular em que uma maior capacidade de evitar a formação de espécies que contribuam para o stress oxidativo leva a menores danos. Os resultados são também bastante claros em relação a um dogma existente na literatura. Ainda que limitados a amostra de pilotos do estudo, com características próprias das rotas efectuadas pela TAP Portugal, é notória a diferença da dose recebida por pilotos de médio e longo curso. Após normalização das doses recebidas para as horas voadas, podemos constatar que os pilotos de médio curso possuem em média valores significativamente maiores de dose recebida do que os pilotos de longo curso. Apesar de não ser possível falar de um efeito cumulativo normal, não é de todo impossível pensar que a exposição ocupacional a que um piloto de linha aérea está sujeito possa provocar um desgaste no sistema metabólico. Este desgaste pode levar a que, em idades mais avançadas da carreira, a resposta a lesões a nível da informação genética ou de stress oxidativo não sejam as adequadas e que por esse motivo se venham a desenvolver determinadas patologias. Ainda que nenhum estudo sistemático exista, esta observação parece ser apoiada pela menor esperança média de vida que se observa em pilotos de linha aérea. É de ressalvar a novidade com a aplicação dos testes bioquímicos a um estudo deste género, que pela primeira vez tenta correlacionar diferentes variáveis com possíveis alterações fisiológicas. Estamos em crer que o futuro sucesso desta metodologia passa pela sua aplicação ao número elevado de indivíduos, permitindo assim passar para uma utilização em larga escala na comunidade, aí sim, já com interesse em diagnóstico clínico corrente.