Estado funcional e utilização de serviços em idosos no habitat urbanoestudo em São João da Madeira (Portugal)

Resumo

O envelhecimento, pelo impacto na sociedade e a diversidade de problemáticas que abrange, imperiosamente é um campo multidisciplinar, onde quase todos os intervenientes têm um contributo na avaliação e definição criteriosa de medidas. Apesar do processo de globalização ser uma realidade no envelhecimento, a generalização das suas consequências encerra-se em particularidades limitadas a uma zona geográfica e às suas características. Vários são os factores identificados como fulcrais na génese e manutenção de uma vida saudável e, logo, de um envelhecimento saudável, ainda mais num grupo vulnerável como o dos idosos. Os determinantes individuais (determinantes pessoais e determinantes comportamentais), e determinantes do habitat (determinantes económicos, determinantes do meio físico, determinantes sociais e determinantes relativos aos serviços sociais e de saúde), são factores de amplificação ou minimização do risco, que urge identificar. Só com a redução das iniquidades entre estes determinantes conseguiremos quebrar o ciclo que os interliga. Só conhecendo e caracterizando os idosos nos seus diferentes contextos habitacionais, podemos perceber as diferenças e determinar as acções. Este estudo realiza uma abordagem à influência que o meio ambiente urbano tem no processo de envelhecimento, caracterizando os idosos residentes num concelho com características marcadamente urbanas, de Portugal (São João da Madeira - SJM), tendo também como objectivo direccionar as intervenções a implementar nesta população. Foi realizada uma avaliação multidimensional (áreas de recursos sociais, recursos económicos, saúde física, saúde mental e actividades de vida diária (AVD)) e avaliação da utilização e necessidade sentida de 23 serviços, através da aplicação do questionário QAFMI/OARS (Questionário de Avaliação Funcional Multidimensional de Idosos/Older Americans Resources and Services) no domicílio dos idosos, por entrevistadores treinados, a uma amostra de 269 idosos (N=3846; n=7%), aleatória e estratificada por sexo e grupo etário. Os resultados apontam para que em SJM vivem 2 436 idosos com algum tipo de incapacidade; 669 idosos com incapacidade na área da saúde física; 360 idosos com incapacidade na área de recursos económicos; 107 idosos com incapacidade na área de recursos sociais; 68 idosos com incapacidade na área da saúde mental; 25 idosos com dependência na área de AVD. As mulheres apresentam maior incapacidade nas áreas de recursos sociais, recursos económicos e saúde mental; os homens nas áreas de saúde física e AVD. O grupo etário de 65-74 anos, apresentam maior incapacidade nas áreas funcionais de recursos sociais e saúde física; o grupo etário dos 75-84 anos apresenta maior incapacidade nas áreas de recursos económicos e saúde mental; o grupo etário dos 85 e mais anos apresenta maior incapacidade na área de AVD. As mulheres são as principais consumidoras de serviços, e os homens têm especificidades em relação à utilização e necessidade sentida, que se devem ter em conta quando se pretende oferecer um determinado serviço, ou atingir determinado público. Os muito idosos são mais consumidores de serviços, no entanto, os idosos mais jovens (65-74 anos e 75-84 anos), têm necessidades perfeitamente identificadas que devem pesar na oferta e disponibilização destes, de forma a ir ao encontro da sua real necessidade. Os resultados que caracterizam a população urbana, evidenciam as suas características específicas tendo em conta o género e a idade, servindo de base para a determinação de estratégias incisivas, com vista à rentabilização de recursos, para atingir o objectivo definido.